Por Cicilia Barbosa
Consultora na Food Solution
Não é difícil reconhecer a empresa que faz isso. E acredite, não é nada bom. Alguns sinais entregam que o jargão “Segurança de Alimentos em primeiro lugar” existe só na fala.
Normalmente são empresas que fazem investigações superficiais para não conformidades críticas; possuem altos índices de reclamações de consumidores sem tratativa; a alta gestão não participa ativamente do SGSA (sistema de gestão de segurança de alimentos); preocupação com aparência e estética de escritórios corporativos enquanto os recursos financeiros são escassos para a manutenção dos equipamentos; “planejamentos” para melhorias que nunca se concretizam; estudos de HACCPs obsoletos; equipe de qualidade desmotivada por não ser ouvida.
Me parece que esta lista é interminável. Você com certeza saberá enumerar mais coisas aqui. E entre priorizações e despriorizações, de repente acontece o que todos temiam, o que eu chamo de “tragédia anunciada”: aquela baita contaminação química na linha de produção, bloqueio e recolhimento de produtos que custarão milhares de reais, consumidores enfurecidos (e com razão) expondo o produto nas redes sociais pedindo o “cancelamento” da empresa e prejuízos incalculáveis para a marca.
E agora, quem irá nos salvar?
Se você se identificou inserido neste contexto ou pensou “apagar o fogo deste incêndio sempre sobra para a equipe de qualidade”, cuidado! Sua empresa pode estar tratando a Segurança de Alimentos como prioridade e este é o “x” da questão. Prioridades tendem a mudar de lugar e podem ficar em segundo, terceiro, último ou até em plano nenhum, quando na verdade deveria ser tratada como um valor de referência a ser seguido. Perdem os funcionários, perde a marca, perdem os consumidores. Hora tem produto seguro na gôndola do supermercado, hora não tem. Trabalhar com essa incerteza é desafiador demais para os profissionais que querem fazer bem feito e sofrem com o favoritismo momentâneo dado à Segurança de Alimentos.
Para tratar a Segurança de Alimentos com o valor que ela merece e necessita só tem um caminho: a alta direção deve deixar claro que a manutenção do SGSA é um valor inegociável. A congruência entre falar e agir deve ser visível e notado por todos os colaboradores através de: propósitos e metas definidas com base em melhoria contínua, processos de comunicação e gestão de mudanças robustos, recursos destinados de forma organizada e suficientes para as áreas que impactam no SGSA, valorização e capacitação constante da equipe tanto na parte técnica como comportamental e gestores comprometidos e envolvidos liderando pelo exemplo.
Esses pilares construirão uma cultura de Segurança de Alimentos sólida, que pode até falhar em algum momento, mas a equipe saberá se recuperar à tempo e fazer cada vez melhor já que a melhoria contínua fazerá parte de todo o processo.
Desta forma, o SGSA deixará de ser baseado em prioridades, que por sua vez criava um cenário inseguro pautado em cobranças e imposições, e passará a ser fundamentado em valores, onde as atitudes dos gestores demonstrarão a aplicação genuína dos conceitos da fabricação de alimentos seguros. A empresa demonstrará o seu comprometimento através da infraestrutura, na qualidade das reuniões, na capacitação de seus funcionários e no oferecimento de um produto seguro ao mercado. Uma marca de confiança só fideliza o consumidor que compra cada vez mais. Uma empresa saudável em todos os aspectos.